Maria Pia Guerra*

Em artigo recente, publicado na revista de divulgação Science, a jornalista Sofia Moutinho analisa a equidade no mercado editorial científico, destacando as diferenças entre as práticas de acesso adotadas na América Latina e em regiões como a Europa e os Estados Unidos. A principal contribuição do texto é apresentar o modelo de revistas científicas de acesso aberto sem fins lucrativos (open access) amplamente adotado na América Latina, que prioriza a gratuidade ou custos reduzidos para os autores. 

Questiona a autora: seria o modelo latino-americano de acesso aberto uma alternativa ao sistema de publicações comerciais predominante em outros locais, que frequentemente impõe barreiras financeiras aos pesquisadores com menos acesso a financiamentos? 

Em países do norte global, a publicação em revistas acadêmicas mais conhecidas e conceituadas pode chegar a custar entre $2000 e $12000 dólares. Não é difícil imaginar o impacto desse custo para pesquisadores de países que contam com menos acesso a financiamento público ou privado. 

Diante dessas dificuldades, plataformas como a SciELO e a Redalyc na América Latinha vem desempenhando um papel importante ao reunir periódicos acadêmicos e aumentar sua visibilidade em âmbito internacional. Essas iniciativas permitiram que publicações antes acessíveis apenas a comunidades locais alcançassem públicos mais amplos e fossem integradas a índices de citação relevantes, como Scopus e Web of Science.

No entanto, continua a autora, são muitos os desafios enfrentados por esse modelo, como a falta de financiamento consistente e a precariedade do trabalho dos editores, que em muitos casos dependem exclusivamente de recursos públicos instáveis. Além disso, apesar dos avanços, a ausência de métricas amplamente reconhecidas, como o fator de impacto, e a publicação predominante em idiomas locais ainda limitam o alcance e o reconhecimento dessas revistas em escala global.

Para a autora, o modelo latino-americano pode inspirar mudanças em outras regiões, ao sugerir que universidades assumam um papel mais ativo na publicação científica, reduzindo a dependência de editoras comerciais. 

O artigo oferece uma reflexão relevante para pesquisadores e profissionais interessados na ampliação do acesso ao conhecimento científico. Recomenda-se a leitura como uma oportunidade de compreender os avanços e os desafios de um modelo de publicação que busca equilibrar acessibilidade e qualidade editorial em contextos marcados por limitações econômicas e estruturais.

MOUTINHO, Sofia. Breaking the Glass: Latin America is a leader in nonprofit open-access journals. But it struggles to give them global visibility. Science, 5 dez. 2024. Disponível em: <https://www.science.org/content/article/latin-american-journals-are-open-access-pioneers-now-they-need-audience>.  

*Professora da Faculdade de Direito e do PMPD da UnB.