O artigo “Unsexing scholarship? Towards better citation and citizenship practices in global public law”, de Rosalind Dixon e Mila Versteeg, analisa a sub-representação de mulheres no espaço acadêmico e sugere medidas para mitigar o problema. A leitura é essencial para compreender as barreiras de gênero na academia, especialmente em publicações científicas.

Principais Gargalos para a Igualdade de Gênero

Dixon e Versteeg identificam diversos fatores que contribuem para a desigualdade de acesso entre homens e mulheres na academia, com destaque para:

  1. Sobrecarga de Trabalho Acadêmico: O aumento das demandas por produtividade (“publicar ou perecer”) sobrecarrega docentes com tarefas administrativas e de ensino, reduzindo o tempo disponível para pesquisa. Esse cenário é agravado pela diminuição de recursos públicos e pela intensificação da burocracia nas universidades. Tais pressões afetam desproporcionalmente as mulheres, especialmente aquelas com responsabilidades de cuidado adicionais.
  2. Práticas de Citação Prejudiciais: O estudo mostra que há uma diferença estatisticamente significativa na taxa de citação de acadêmicas em comparação com seus colegas homens. Isso se deve, em parte, à tendência de citar pesquisadores pertencentes às mesmas redes acadêmicas, majoritariamente masculinas, o que perpetua a desigualdade. Além disso, os “efeitos Mateus e Matilda” contribuem para essa disparidade: ideias apresentadas por homens são frequentemente percebidas como mais importantes, enquanto contribuições femininas podem ser atribuídas a colegas homens.
  3. Distorções nos Eventos Acadêmicos: A participação em conferências e redes acadêmicas é um fator importante para a visibilidade e citação. No entanto, mulheres enfrentam barreiras adicionais pelas responsabilidades de cuidado, e, em comparação com pesquisadores do norte global, pelas limitações financeiras e mesmo dificuldades de visto, que dificultam seu acesso a esses espaços de socialização acadêmica.

Sugestões das Autoras

Dixon e Versteeg propõem soluções para enfrentar esses desafios, incluindo:

  • Mudanças Estruturais: É necessário um esforço coletivo para reverter a garantir financiamento adequado à pesquisa e distribuir equitativamente as atividades de ensino, pesquisa e atividades administrativas de forma justa.
  • Práticas de Citação Mais Justas: As autoras sugerem que as revistas acadêmicas adotem um compromisso de consideração da diversidade de gênero nas citações.
  • Reformulação da Cidadania Acadêmica: Propõe-se uma visão realista e flexível do que denominam cidadania acadêmica, reconhecendo que as responsabilidades de mentoria e revisão não devem recair desproporcionalmente sobre mulheres e minorias raciais. Além disso, destaca-se a importância de um equilíbrio entre qualidade e quantidade na produção acadêmica.

O artigo de Rosalind Dixon e Mila Versteeg é recomendado para os que desejam compreender e combater as disparidades de gênero na academia, incluindo pesquisadores, editores de periódicos e gestores universitários.